A Saraiva é uma companhia de capital aberto listada na Bovespa pelos códigos SLED3 e SLED4, e conta com cerca de 6 mil funcionários. É considerada uma das maiores livrarias e editoras do país, teve o faturamento em 2013 na casa dos R$2.1 bilhões de reais. Possui atualmente 117 lojas em 17 estados brasileiros, e através deste artigo falarei sobre as minhas perspectivas futuras em relação a empresa.
Perspectivas Futuras
- O resultado 3T14
Acredito que o resultado desse trimestre será de prejuízo por uma questão comum à característica deste setor que é de apresentar bons resultados apenas no 4T e principalmente no 1T.
Não haverá dividendos e JCP porque o pagamento sempre é feito em Dezembro ou no começo do ano.
Quanto ao resultado anual da companhia para 2014, estimo um lucro mediano, principalmente por esta filosofia da Saraiva de continuar abrindo loja ao invés de pagar dívida, principalmente aquelas de curto prazo.
Mas de qualquer forma acredito que será um lucro pelo menos 4 vezes maior do que o de 2013. Pelos seguintes motivos:
1) Não haverá a tal baixa contábil extraordinária de R$42 milhões (ou quase isso). Sem esta baixa contábil, a empresa teria tido um lucro de R$55 milhões em 2013.
2) Os gastos com reestruturação, que totalizaram cerca de R$14 milhões em 2013 tende a diminuir. A empresa dobrou de valor nos últimos 6 anos. Naturalmente por estar em um segmento concorrido e de margens pequenas (a operação de varejo), é normal ocorrer “dores do crescimento”, o que de fato impactou de forma significativa a companhia, reduzindo sua margem ainda mais.
3) Com maior geração de caixa este ano, a Saraiva terá possibilidade de pagar as suas dívidas que geram altos custos com juros. Ela está mais endividada do que o normal porque queimou R$63 milhões do caixa, com:
– Investiu R$30 milhões em infraestrutura, principalmente (R$21 milhões) na construção de um novo centro logístico.
– Abriu 9 lojas em 2013, enquanto este ano de 2014 ela planejava abrir 6 unidades.
– Gastou R$21 milhões para comprar a Editora Érica.
Por que sou otimista com esta empresa?
Vejo perspectivas de melhoria nos lucros:
Qualquer administrador competente conseguirá aumentar a sua lucratividade de forma razoável a partir de agora. Com a receita na casa de 2 bilhões, seria bem possível ela ter lucro de R$80 milhões, ou R$100 milhões, por exemplo.Bastaria apenas fazer com que a empresa tivesse entre 4% e 5% de margem líquida, coisa que ela vinha tendo nos últimos 10 anos. Como?
- Diminuindo o ritmo de expansão e pagando dívidas;
- Contando com os benefícios de economia de escala e dinamismo gerados pela melhora de sua logística através do investimento no novo centro logístico;
- Investindo na imagem que deteriorou graças a esta reestruturação. A Saraiva atrasou entregas, por causa da construção do novo centro logístico.
- Tirando proveito da sua presença física nas principais cidades maiores consumidoras de livros. Ela tem que dar foco no imediatismo buscado pelo consumidor (compre no site e retire na loja) para competir com a sua mais nova concorrente, a Amazon. Com isso ela terá um grande aumento na margem de venda de produtos, visto que o custo logístico do Brasil é aterrorizante.
Acredito que a reestruturação poderá trazer benefícios para a companhia:
Com a reestruturação a empresa promete maior integração entre livraria e editora. Se realmente acontecer, e não for mais uma desculpa pelo mal resultado de 2013, será ótimo. Uma das piores coisas que acontece com empresas grandes é a tal da burocracia. Burocracia é um mal “quase necessário” que deixa tudo lento. Muita burocracia mata qualquer negócio. E além disso, se esta restruturação for de verdade, ela também trará menores despesas administrativas por causa do aumento da eficiência.
Gosto das “parcerias” que a Saraiva anda fazendo:
A Saraiva fez parceria com o Walmart, todo o livro vendido no site do Walmart fica sob responsabilidade da Saraiva. A Saraiva fez parceria com a Kroton, criando uma plataforma de ensino para os 3.500 alunos do último ano de Direito. Isso pode ser uma porta para fazer mais parcerias neste sentido.
O concorrente que “todo mundo” fala não me amedronta:
O faturamento do mercado de livros no Brasil é de apenas cerca de R$5 bilhões, enquanto países desenvolvidos como EUA e Alemanha tem cerca de U$27 bilhões (algo como R$67 bilhões convertidos em reais) e €9,52 bilhões respectivamente (cerca de R$30 bilhões)
Por que estou dizendo isso? Para mostrar que a ameaça da Amazon não é relevante como todos pensam. Porque desses R$5 bilhões, cerca de 70% é referente a venda de livros didáticos e técnicos, o forte da Saraiva.
O brasileiro não lê. Isso é fato. O mercado de obras gerais representa um faturamento de apenas R$1,2 bilhões por ano. A barreira de entrada de uma editora é imensa. Não tanto no segmento das obras gerais (apesar de haver sim, uma barreira de entrada considerável), mas principalmente em relação a livros técnicos e didáticos.
A Saraiva atende um nicho específico. Engana-se quem pensa que ela foca no segmento de Obras Gerais. APENAS 4% da receita da editora é referente a este tipo de obra! E a Amazon representa uma ameaça maior principalmente neste segmento.
Então vamos ao faturamento da editora Saraiva: 49% vem dos livros didáticos, 37% vem dos livros técnicos, 10% vem dos sistemas de ensino, 4% de vem de “outros” e obras de ficção/não ficção.
O Brasil, querendo ou não, terá que aprender a ler:
É fato conhecido que os brasileiros não são fãs de leitura. Basta comparar o número de acessos a blogs de vídeos de humor com os acessos de blogs de investimentos, assim como o meu, rs. Mas infelizmente para estes que não gosta de ler, não se evolui sem leitura. E para o Brasil se tornar competitivo, vamos todos sermos obrigados a começar a ler e adquirir aprendizado através das empresas que fornecem contéudos de ensino. E quais são essas empresas??? Saraiva e suas concorrentes, obviamente.
Provavelmente graças a isso haverá maiores estímulos para que a população tenha mais acesso aos livros, como o vale-cultura.
Por que tenho um lado bipolar pessimista?
- Porque pode acontecer de os administradores da Saraiva não diminuírem o ritmo de expansão e continuarem acumulando dívidas com altos juros. Pagar juros é uma coisa irritante, principalmente se for muito, como no caso da Saraiva.
Quando o negócio começa a lucrar menos do que paga em juros é hora de pisar no freio e dar um tempo para respirar.
- Porque a Amazon pode entrar no mercado brasileiro para valer, mudar sua estratégia e focar no nicho da Saraiva. Apesar de achar isso bastante improvável, nunca deve-se subestimar uma multinacional que fatura mais de 70 bilhões de dólares, quase 80 vezes o faturamento da Saraiva. Imagina quanto dinheiro ela tem para queimar? Eu pesquisei. Em 2013 ela terminou com cerca de US$8 bilhões em caixa. É, este valor representa atualmente 20 vezes o valor de mercado da Saraiva. Quando você põe desta forma que você vê o quanto a Saraiva é pequena perto da gigante Amazon.
- Por causa da economia do Brasil e do setor da Saraiva. Negócios com margem baixa são péssimos para crises. Não tem “gordura para queimar”. Por isso é necessário abaixar o endividamento da companhia, aumentando a margem líquida e gerando esta gordura emergencial. A vantagem é o giro que é muito alto. Em caso de aperto você consegue fazer uma venda muito rápida no estoque gerando caixa. Só por isso que a Saraiva conseguiu dar bons lucros nos últimos 10 anos (exceto 2013).
Essa foi minha análise baseado em algumas coisas que li à respeito da empresa. E você, o que acha?