Este artigo foi escrito em 2013, baseado no Capítulo 11 do livro “O Investidor Inteligente” de Benjamin Graham.
Quais fatores determinam quanto você deveria estar disposto a pagar por uma ação? O que faz uma companhia valer 10 vezes os lucros e outra valer 20? Como você pode estar razoavelmente seguro de não estar pagando alto demais por um futuro aparentemente cor de rosa que acaba sendo um pesadelo tenebroso?
Benjamin Graham pensa que cinco elementos são decisivos para avaliar uma empresa e chegar a conclusão se vale a pena comprar suas ações. Ele o resume como:
- as “perspectivas gerais de longo prazo” da companhia;
- a qualidade de sua administração;
- sua força financeira e estrutura de capital;
- seu histórico de dividendos;
- sua taxa de dividendos atual.
Para analisar uma companhia o investidor deverá analisar os seus relatórios anuais dos últimos e após reunir os dados importantes, o investidor deverá responder estas duas perguntas:
1) O que faz essa companhia crescer?
2) De onde vem ou virão os seus lucros?
Entre os problemas que deverão ser vigiados estão:
- A companhia é uma compradora serial. Uma média mais de duas ou três aquisições por ano é um sinal de problemas. Afinal, se a própria companhia prefere comprar ações de outros negócios em vez de investir no seu próprio, você deveria fazer o mesmo. Cuidado com companhias que mordem mais do que podem engolir. E aquelas que após avaliar uma empresa, acabam pagando preços altos demais por suas aquisições realizando grandes baixas contábeis.
- A companhia é viciada em “DDT” (dinheiro de terceiros), levantando dívidas e vendendo ações. Rotuladas de “dinheiro de atividades de financiamento” em seu balanço de fluxo de caixa, elas podem parecer companhias saudáveis em crescimento quando na realidade podem não estar gerando dinheiro o suficiente.
- A companhia depende de um ou poucos clientes para obter a maior parte de suas receitas. Podemos ter no Brasil exemplos de empresas que prestavam serviços para a Petrobrás e foram substituídas e quebraram. Ou companhias que vão mal e suas ações desvalorizaram pelo mesmo motivo como: Lupatech, CSU Cardsystem, entre outras.
Os pontos positivos são:
- A companhia possui um “grande muro” ou vantagem competitiva. Algumas companhias podem ter facilmente os seus clientes roubados enquanto outras tornam esta tarefa quase impossível. Pontos que podem aumentar este muro são: identidade forte (pense na Harley Davidson, cujos compradores tatuam a sua marca nos próprios corpos) ; monopólio ou quase-monopólio (podemos pensar na Ambev e o mercado de cervejas); economias de escala ou capacidade de ofertar grandes quantidades de bens e serviços baratos (Gillete, que produz bilhões de lâminas de barbear); um ativo intangível singular (pense na Coca-Cola); uma resistência a substituição (sem alternativa a eletricidade, companhias elétricas serão dificilmente suplantadas em um futuro próximo). Todos estes fatores são essenciais serem analisados ao avaliar uma empresa.
- A companhia é uma maratonista e não velocista. Os lucros devem ter crescido de forma consistente e constante. Companhias de crescimento rápido tendem a superaquecer e se extinguir. Se os lucros estiverem crescendo a uma taxa de 10% antes dos impostos, ou entre 5 e 6% após tributação, isso pode ser sustentável. Porém as metas de crescimento de 15% que muitas companhias estabelecem para si mesmas são ilusórias.
- A companhia investe em si mesmo e constantemente dedica uma parte de seu faturamento a Pesquisa e Desenvolvimento (P&D).
A qualidade e conduta da administração
- Os executivos devem dizer o que farão e depois cumprir o que disseram. Vejam se eles disseram e cumpriram o que disseram lendo os relatórios anuais. Veja se eles assumem a responsabilidade por seus fracassos ao invés de acusarem “a economia”, “as incertezas”, ou ” a demanda fraca”.
- Veja a remuneração de seus executivos se são altas demais. Verifique se ela modifica os preços de suas opções sobre ações cedidas aos seus funcionários. Fuja desse tipo de companhia.
- Tome cuidado com executivos que esquecem de trabalhar e passam o tempo fazendo a promoção da companhia. Comunicados a imprensa constante e tentativa de elevar o preço de suas ações devem ser vistas com maus olhos.
Força financeira e estrutura de capital
A definição de um bom negócio é se ele gera mais dinheiro do que consome. Bons administradores utilizam o dinheiro de forma produtiva. Verifique se não está havendo gastos desnecessários ou falta de foco. Em seguida analise a estrutura de capital da empresa. A dívida de longo prazo é ideal ser inferior a 50% do seu capital social total. Estas dívidas preferencialmente devem ter uma taxa fixa por manter os juros constantes. E não variável o que ocasionaria em seu aumento se as taxas de juros subirem. Apesar de ser difícil as empresas conseguirem financiamento de longo prazo sem taxa variável no Brasil, é bom analisar este item ao avaliar uma empresa. É um grande diferencial pois existem empresas que quebram por causa do aumento da taxa SELIC.
Procure no relatorio pela “razão entre lucros e encargos fixos”. Se os lucros da companhia deixaram de cobrir os encargos, significa que ela terá que lucrar muito mais com suas operações ou terá que encontrar uma forma de pegar empréstimo a taxas mais baixas. Caso contrário, a companhia poderá terminar como propriedade dos donos de seus títulos, e não de seus acionistas.
Dividendos
Caso ela não pague dividendos: se a firma estiver superando a concorrência, de forma consistente, em mercados bons e ruins, significa que os administradores estão utilizando o dinheiro de forma excelente. Caso contrário, se a companhia estiver tropeçando, os administradores estão usando mal o seu dinheiro. A falta de dividendos não é um fator totalmente negativo para se considerar ao avaliar uma empresa porque este dividendos não distribuídos podem ser utilizados para aumentar a empresa através de um financiamento orgânico, sem taxa de juros. O que o investidor deve ficar atento é se a empresa, ao reter dividendos, tem boas justificativas para tal.
Desdobramento de ações
Companhias que alardeiam o desdobramento estão incentivando o pior instinto do público investidor, tratando-os como tolos. Divulgar o desdobramento como se você fosse receber o dobro de valor é errado. Um investidor inteligente evitaria colocar qualquer dinheiro na mão destes manipuladores. Uma pizza tamanho grande não muda de tamanho por ter 4 ou 8 pedaços. Continua do tamanho grande. Não cometa este erro ao avaliar uma empresa porque você acabará comprando ações de uma empresa com o preço inflado por um simples acréscimo do número de fatias do bolo.
Recompra de ações
A empresa deve recomprar as suas ações quando estão baratas, e não quando estão no pico. Não existe desperdício de dinheiro mais cínico, já que a manobra por trás da recompra no pico consiste em permitir com que os executivos mais graduados ganhem rios de dinheiro ao vender suas opções sobre ações em nome do “aumento do valor para os acionistas”. Observe a época em que a empresa recompra as suas próprias ações. Uma boa época é quando a bolsa está baixa ou o país está em crise. A recompra também pode ser feita em épocas comuns, mas nunca em épocas de euforia no mercado.