Em sua carta anual de 1983, Buffett escreveu sobre a importância “goodwill econômico” (valor intangível que não está contabilizado no balanço, por exemplo: carteira de clientes, valor da marca, etc) nas companhias em que ele investiu:
Nós possuímos muitas empresas que tem Goodwill econômico (que é apropriadamente incluível no valor intrínseco de um negócio) muito maior do que o Goodwill contabilizado em seu balanço e refletido em seu valor contábil…
…Você pode viver uma vida plena e recompensadora sem sequer pensar sobre Goodwill e sua amortização. Mas estudantes de investimento e gerentes devem entender as nuances deste assunto. Meu próprio pensamento tem mudado totalmente em relação a 35 anos atrás quando eu fui ensinado a dar preferência para valores tangíveis e afastar de empresas cujo valor dependiam muito do Goodwill. Esse viés me levou a cometer muitos erros importantes de omissão (deixar de investir), apesar de relativamente poucos de comissão (perder dinheiro com o investimento).
No ano seguinte, em 1984, Berkshire destacou a compra da empresa Nebraska Furniture Mart. Buffett era um grande fã da presidente da NFM, Rose Blumkin de 91 anos de idade, que ele chamava carinhosamente de “Mrs. B”.
Aqui está o trecho:
As pessoas tem me questionado quais são os segredos que a Sra. Blumkins trás para o seu negócio. Eles não são muito esotéricos. Todos os membros da família: (1) se dedicam com entusiamos e energia que faria Ben Franklin e Horatio Alger (superou muitas dificuldades) parecerem desistentes; (2) define a sua área de competência com o mais extraordinário realismo e age decididamente em todos os aspectos dentro desta área (3) ignora até mesmo as propostas mais atraentes que aparecem fora da sua área de competência; e, (4) se comporta de uma maneira infalível e de alto nível com todos as pessoas que ela negocia. (Mrs B. segue a filosofia que ela se refere a “venda barato e fale a verdade”.)
Nossa avaliação da integridade de Mrs. B e sua família foi demonstrada quando nós compramos 90% da empresa; NFM nunca tinha feito uma auditoria e nós não pedimos uma; nós não fizemos um inventário e nem verificamos os recebíveis; não verificamos os documentos do imóvel. Nós demos um cheque de $55 milhões para ela e ela nos deu a sua palavra. Isso aconteceu com toda a negociação.
Isso é confiança.
Buffett é um investidor antigo em negócios de seguros. Em sua carta anual de 2001, ele descreveu a indústria deste setor, assim, “Nosso negócio principal – apesar de termos muitos importantes – é seguradora. Para entender a Berkshire, portanto, é necessário que você entenda como avaliar uma companhia de seguros.
Buffett refletiu sobre o ataque ao World Trade Center em 11 de Setembro de 2011, e como a perspectiva do terrorismo alterou o setor de negócios de seguros:
Os eventos de 11 de setembro deixaram claro que a nossa implementação das regras 1 e 2 na General Re (empresa de resseguros) eram perigosamente fracas. Em fixar preços e avaliar riscos agregados, nós negligenciamos e descartamos a possibilidade de perdas com terrorismo de larga escala. Isso era um fator de seguro relevante e nós ignoramos.
Em precificar a cobertura de propriedades, por exemplo, nós olhamos para o passado e levamos em conta apenas custos que poderíamos esperar de furacões, fogo, explosão e terremoto. Mas o que será a maior perda para um imóvel assegurado da história (após adicionar alegação relacionadas a interrupção de negociações) não foi originada por nenhuma dessas forças. Em suma, todos nós da indústria cometemos um erro de seguros fundamental por focar na experiência, ao invés de exposição, assumindo assim um risco terrorista enorme no qual não recebemos nada para correr.
Finalmente, em 2008 – o ano da quebra de Lehman Brothers na crise financeira global.
A carta anual de Buffett foi bem abrangente, dando lições que investidores aprenderam naquele ano.
Em uma seção, Buffett falou sobre o perigo dos derivativos, dos quais foram os maiores responsáveis pela crise. Buffett como um velho investidor em empresas de seguros, teve muita experiência com este tipo de instrumento.
Ele escreveu:
Na verdade, os acontecimentos recentes demonstraram que certos CEOs (ou ex-CEOs) de grandes nomes das maiores instituições financeiras eram simplesmente incapazes de gerenciar o negócio sem um enorme, complexo portfólio de derivativos. Incluindo Charlie e eu nesse grupo infeliz. Quando a Berkshire comprou a General Re em 1988, nós sabíamos que não iríamos conseguir entender seu portfólio com 23.218 contratos de derivativos, feitos com 884 contrapartes (muitas dessas nas quais nunca ouvimos falar). Então nós decidimos acabar com a venda. Apesar de não estarmos sob pressão e operando em um bom mercado, assim que saímos, demorou cinco anos e $400 milhões em perdas para cumprirmos esta tarefa. Ao sairmos, os nossos sentimentos em relação a empresa se resumiu a uma frase de uma música country: “Eu gostava mais de você antes de te conhecer tão bem”.
Melhorar a “transparência” – um remédio favorito dos políticos, comentaristas e reguladores financeiros para evitar futuros acidentes – não curam os problemas que os derivativos apresentam. Eu não sei de nenhum mecanismo de informação que poderia chegar perto de descrever e medir os riscos em um grande e complexo portfólio de derivativos. Auditores não podem auditar estes contratos, e reguladores não podem regulá-los. Quando eu leio as páginas de “divulgação” da performance financeira de empresas que estão emaranhadas com estes instrumentos, tudo que eu acabo descobrindo é que não sei nada sobre o que está acontecendo com seus portfólios (e então eu procuro uma aspirina).
Estes trechos acima de tudo, é claro, são apenas uma pequena parte de como Buffett escreve, e que faz as suas cartas serem a mais esperadas por investidores todos os anos.
Fonte: http://www.businessinsider.com/the-top-5-warren-buffett-letters-2013-3
Tradução: https://www.buyandhold.com.br