O investidor de longo prazo conta com diversas vantagens em relação aos demais para investir em ações. Entretanto existem algumas manias ou hábitos destes investidores que podem ser extremamente prejudiciais, e um deles é: o hábito de vencer.
Muitos de nós temos aquelas ações que nos deram muitas alegrias. Obviamente são as nossas favoritas pois foram as que mais corresponderam as nossas expectativas. Justamente por isso passamos a negligenciar a sua análise ano após ano. E quanto mais o valor por ação sobe e dividendos ganhamos, mais pensamos que não temos que nos preocupar em analisar esta empresa. Que já é “ganho garantido”. Pobre tolo é o investidor que em algum momento da sua carreira pensa desta forma. Está correndo grande risco!
Poderíamos dizer que acostumar-se a vencer é prejudicial em qualquer área da vida. Mas vou explicar porque é um grande erro no mundo dos investimentos:
Raras são as empresas que têm sucesso durante uma geração inteira.
Livros como Vencendo a crise foi publicado há cerca de 25 anos atrás. O livro contava como diversas empresas obtinham sucesso ano após ano, com um modelo de negócio diferenciado. Porém apenas dois anos após a publicação do livro várias empresas pesquisadas começaram a cair no esquecimento: Atari, Chesebrough-Pond’s, Data General, Fluor, National Semiconductor. Dois terços das empresas identificadas como modelo em Vencendo a crise perderam sua posição entre as líderes setoriais cinco anos após a publicação do livro.
O outro livro chamado Feitas para durar seguiu o rastro de Vencendo a crise. Seu propósito era descobrir “práticas bem-sucedidas das empresas visionárias” que apresentavam histórico duradouro de desempenho superior. Para evitar a armadilha em que Vencendo a crise caiu, o período da pesquisa foi ampliado para toda a vida da empresa e a análise foi limitada a organizações com mais de 40 anos. Feitas para durar também virou best-seller. Contudo, mais uma vez, quando submetidas a análise mais minuciosa, também as empresas destacadas em Feitas para durar revelaram deficiências.
No livro Destruição criativa, boa parte do sucesso atribuído a algumas empresas-modelo em Feitas para durar explica-se mais pelo desempenho do setor do que pelo desempenho das empresas em si. Por exemplo, a Hewlett-Packard (HP) satisfez os critérios de Feitas para durar, por apresentar desempenho superior ao do mercado durante muito tempo. Na realidade, embora a HP superasse o mercado, o mesmo ocorreu com todo o setor de hardware para computadores. E, ainda por cima, a HP nem mesmo se mostrou melhor do que os concorrentes dentro do próprio setor de hardware para computadores.
Por meio destes e de outros exemplos, Destruição criativa questiona se algum dia realmente houve empresas “visionárias” que sempre teria sobrepujado o desempenho do mercado. Ademais, todos assistimos a estagnação e ao declínio das empresas japonesas que um dia foram enaltecidas como estrategistas “revolucionárias”, durante o seu apogeu de fins da década de 1970 a princípios da década seguinte.
Portanto tenha muito cuidado!
Não devemos nos conformar após comprar uma ação. A vigília é constante.
- Um empresário demite funcionários com baixa produtividade ou que cometeu erros demais.
- Um investidor de imóveis está constantemente observando a vizinhança e a condição do imóvel mesmo após tê-lo comprado.
- Um criador de gado aperfeiçoa constantemente a genética de seu rebanho retirando animais menos puros ou com defeitos genéticos.
Então porque você não deve fazer o mesmo com a sua carteira de ações?
Corte empresas que estão se deteriorando. Corte aquelas que estão piorando os seus resultados ao longo dos anos. Corte empresas que são usadas por CEOs exploradores que não se preocupam com os acionistas.
Enfim, faça análise constante, todos os anos. Leia os relatórios trimestrais e principalmente os anuais. Cuide do seu dinheiro!