Liberdade Financeira: Problemas de Dinheiro Podem não ser tão Óbvios!

2010

Todos os livros sobre “como ganhar dinheiro” sempre tratam de dois assuntos:

  • Como ganhar mais dinheiro
  • Como gastar menos dinheiro

Veja a popular história ‘gaste menos e alcance a liberdade financeira’ do blog Mustachianism:

“Como se sabe, gastar muito menos dinheiro do que você ganha é o caminho para ficar rico. O ÚNICO caminho. E os efeitos são surpreendentes: se você conseguir economizar 50% da sua renda a partir dos 20 anos, você será rico o suficiente para aposentar aos 37 anos. Se você já tem alguns ativos, você estará ainda mais próximo. Se você consegue economizar 70%, a sua carreira terá apenas 7 anos.”

Outra história popular é encontrada em outros blogs, algo como: comece um negócio paralelo, ganhe mais, e inicie a sua carreira para a liberdade financeira.

Eu não sou como alguns, que pensam que todos os livros sobre finanças pessoais (ou até mesmo os de auto ajuda) são um meio sujo para ajudar os autores a ganhar dinheiro. Pelo contrário, eu acredito genuinamente que as pessoas precisam de respostas, e alguns destes livros fazem muito bem o que propõem.

Mas ainda assim, estas duas categorias de conselhos financeiros – ganhe mais ou gaste menos – ignora uma coisa importante: muito dos nossos problemas com dinheiro não são, frequentemente, problemas de dinheiro.

O que ? Dinheiro não é dinheiro?

Em Como Se Preocupar Menos Com Dinheiro , o filósofo John Armstrong mostrou que o que nós pensamos serem problemas com dinheiro, não são problemas com dinheiro de maneira alguma.

Os nossos problemas com dinheiro podem ser atrelados a outras facetas da nossa vida:

“…nós não percebemos, necessariamente, o que o dinheiro representa para as nossas mais profundas imaginações. Ele pode significar status, segurança, vingança, salvação, superioridade moral ou culpa (e muito mais). Estes são grandes temas que nós podemos nos prender e que tem grande influência na nossa relação com o dinheiro.”

Para ilustrar, Armstrong apresenta James, um dos homens mais ricos do Reino Unido.

Armstrong escreve

“Por mais de três décadas, James construiu uma fortuna substancial através de seus empreendimentos imobiliários e vários outros negócios. Ele está entre os mil homens mais ricos do Reino Unido, e está aterrorizado com o fracasso e pobreza. …Ele acredita honestamente que ele não tem o suficiente. Ele olha para a declaração dos seus bens e se enche de ansiedade. Ter mais é urgentemente necessário. A solução real para os seus problemas não pode ser econômica … não importa o quanto dinheiro ele acumula, a sua ansiedade não diminui.”

Para todos, exceto para James, está claro que dinheiro não é a resposta para os seus problemas. Ainda assim, James está cego para enxergar isto. A crença de que dinheiro é a fonte para os seus problemas corre no seu sangue, lhe deixando incapaz de ver outras possíveis soluções:

“O consolo para os seus temores precisa ser encontrado através de outras formas. Talvez arte ou religião ou uma mudança na atitude em relação a sua família poderia fazer diferença. Mas por causa das suas preocupações com dinheiro, James não foca a sua inteligência insaciável para estas direções.”

Talvez nós possamos imaginar um loop sem fim, falho, passando pela cabeça de James – não importa a quantidade de dinheiro que ele ganhe, não existe o sentimento de que “estou salvo” ou “tenho o suficiente”.

Apenas um tolo argumentaria que a obesidade epidêmica dos dias de hoje se dá por causa que as pessoas consomem mais calorias do que gastam. Se o seu nutricionista lhe disser apenas para “comer menos e se exercitar mais”, sugiro que você o demita e o substitua por um gravador. Esse nível de conselho não é suficiente para ajudar a maior parte das pessoas – nós devemos ir mais a fundo.

A maior parte dos problemas não vem da quantidade de dinheiro que nós temos

Em vez disso, eles vem de como nós nos relacionamos psicologicamente com dinheiro. Em outras palavras, são preocupações com dinheiro.

Por exemplo, algumas pessoas enxergam dinheiro como um santo graal que, quando elas tiverem o suficiente, todos os problemas de sua vida serão solucionados. Talvez elas acreditam que o dinheiro trará o amor de volta para o seu casamento ou colocar um sorriso no rosto de seus filhos. O que estas pessoas esquecem é que os ricos são, indiscutivelmente, tão infelizes quanto os pobres.

Outros enxergam o dinheiro como um ninho para a corrupção, e propositalmente se empobrecem para fazer uma espécie de justiça.

O que nós podemos perceber é que o dinheiro está intimamente ligado a nossas crenças sobre como o mundo deve ou não deve funcionar. Estas crenças, apesar de negarmos, podem atingir quase uma intensidade religiosa:

“…através de um ponto de vista psicológico, dinheiro são muitas coisas diferentes. Em um extremo, alguém pode considerar o dinheiro como uma espécie de Deus. Não é uma crença explícita, mas se dá através da forma que a pessoa pensa, sente e age. Ou, em outro extremo, alguém pode considerar o dinheiro como mau, e então ela se sente impelida a falhar economicamente, e usa essa falha como uma espécie de validação.”

Os seres humanos são mestres em auto engano, e talvez o auto engano seja a razão de continuarmos a ter problemas com dinheiro tanto aos sessenta anos quanto tínhamos aos vinte.

Se nossas crenças sobre dinheiro são tão importantes, existe algo que nós podemos fazer para melhorarmos?

Autoconhecimento

Um estudo psicológico nos ensina que a imagem que nós carregamos de nós mesmos não é a verdadeira representação de quem nós somos. Em vez disso, a nossa autoimagem é uma elaborada ficção: uma casa construída de forma estranha a partir de percepções tendenciosas e memórias imperfeitas para formar uma narrativa “que faz sentido”.

Ao reconhecer que nós somos narradores, podemos examinar a narrativa de nossas vidas e  descobrir como a nossa própria história enquadra nossa relação com dinheiro.

Armstrong sugere alguns exercícios que nós podemos usar para cultivar estes tipos de autoconhecimento:

  • Reconheça o problema. Todos nós acreditamos que estamos bem, mas isso não garante que nós estejamos realmente. O primeiro passo para descobrir, é estar ciente de que algo pode estar errado.
  • Procure por associações. Em uma folha de papel, escreva algumas palavras que você associa com dinheiro. Explore essas palavras – quais crenças, histórias, memórias elas trazem?
  • Examine a sua história. Olhe para a sua vida. Quais foram os episódios chave que são relacionados com dinheiro? Como eles podem ter afetado as suas decisões passadas? Quem você é hoje?
  • Encontre uma boa comunidade. Evite pessoas tóxicas que querem “ficar ricas ou morrer tentando” ou pensam que o dinheiro “é a raíz de todo o mal”. Em vez disso, procure por pessoas de mente aberta que estão dispostas a te dar feedbacks e te ajudarem a se relacionar melhor com o dinheiro.

O resultado ideal

Agora, a minha parte favorita.

Uma ferramenta poderosa para a disciplina financeira é separar “preciso” do “quero” – necessidade são coisas que são essenciais para as nossas vidas e desejos são coisas que não são.

Isso não significa, como eu acreditei por um longo tempo, que nós devemos focar apenas no que é essencial para a sobrevivência (um teto, arroz e feijão, dois amigos, etc.). Na verdade, nossas necessidades estão intimamente relacionadas com nossas necessidades de mais alto nível – a nossa própria visão do que os Gregos chamam de eudaimonia, ou florescimento humano. É o estado onde existe a felicidade genuína – onde você consegue separar e entender o que realmente te faz feliz.

Para descobrir o que nós precisamos, nós devemos nos fazer perguntas difíceis:

“Se pergunte ‘O quão bom seria ter essa coisa na minha vida?’. Em outras palavras, a distinção entre precisar/querer vai diretamente para perguntas sobre identidade, ética e significado da vida. Você não pode dar verdadeiro significado ao dinheiro, a menos que você pense seriamente sobre estes fatores.

Aha, o significado da vida.

Agora nós podemos ver porque os autores não tocam nesse assunto – nenhum livro, nem mesmo uma prateleira de livros, é suficiente para falar sobre isso.

Essas são os tipos de questões que eu gosto.

Autor: Charles Chu

 

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