Valor Econômico Agregado e Warren Buffett

1348

Warren Buffett uma vez disse que “era 15% Fisher e 85% Graham”, mas hoje em dia desconfia que seja mais que 15% Fisher.

O primeiro mentor, Philip Fisher, analisava empresa de acordo com métodos qualitativos, enquanto o segundo, Benjamin Graham, analisava através de métodos quantitativos. Pode-se dizer que Buffett foi mais bem sucedido justamente por combinar o melhor dos dois mundos na sua estratégia de investimentos, que é basicamente: nunca supervalorizar ou subestimar o quesito qualidade em uma empresa. Caso contrário você irá acabar pagando caro demais, ou comprará empresas medíocres. “É muito melhor pagar um preço razoável por um negócio maravilhoso, do que um preço maravilhoso por um negócio razoável.”, disse Warren Buffett.

Warren não poderia estar mais certo, o que ele busca é muito mais do que lucro, isso se chama Valor Econômico Agregado (EVA), que é composto por várias métricas voltadas para criar valor para os acionistas,  através de uma gestão chamada de Gestão Baseada no Valor (GBV)

Valor para o Acionista

Uma empresa agrega valor quando produz um resultado que supera o seu custo de capital. Ou seja, o retorno dos investimentos é maior do que o retorno exigido pelos fornecedores de capital. O excesso de lucro em relação ao custo de oportunidade é o que se denomina valor econômico agregado.

“Custo de oportunidade: é um conceito econômico indispensável para todo processo de decisão. É o quanto se deixou de ganhar por não aproveitar outras oportunidades disponíveis, ao se decidir por determinada alternativa financeira. Nessa linha de pensamento, este custo é entendido também como uma oportunidade renunciada. Nada mais é do que atribuir um custo de capital ao retorno produzido por um investimento.

É importante destacar que essa comparação deve considerar sempre alternativas de mesmo risco. Não há como considerar que o custo de oportunidade de um negócio seja a taxa de retorno não aproveitada de uma caderneta de poupança, por exemplo. São dois ativos de natureza e riscos bastante diferentes.” diz Alexandre Assaf Neto.

Para ficar mais claro, se você aplica um capital esperando obter um retorno de 16%, você terá um excesso de lucro se obter um retorno de 18%. Esse excesso de lucro criará valor, ou terá valor agregado positivo, enquanto um retorno menor do que 16% ela destruirá valor, ou terá valor agregado negativo.  Observe que uma empresa não necessariamente criará valor se tiver lucro, mesmo com o lucro ela poderá estar destruindo o valor, pois não está atendendo a expectativa de rendimento do fornecedor de capital.  Isso torna o conceito interessante.

A Gestão Baseada no Valor deve orientar as decisões da empresa no sentido de criação de valor. É um sistema que exige uma mudança de postura da empresa e de sua administração, motivando todos os agentes a participarem do processo de criação de valor.

Será necessária incorporar diversas métricas, tanto geral para toda a empresa, quanto por setor, equipe e etc.

Uma importante contribuição desse sistema é contribuir para alinhar os interesses de todos os acionistas com os stakeholders (funcionários, fornecedores, clientes etc). Por exemplo, um sistema de remuneração variável dos empregados com base no valor econômico criado, e não a partir do lucro contábil, permite que todos os funcionários passem a decidir como acionistas, reduzindo o conflito de interesses entre os agentes da empresa.

O mundo globalizado exigiu uma nova postura das empresas. Agora já não basta cortar custos e buscar ampliar o market share. A empresa deve analisar diversos parâmetros, os quantitativos, que é o caso de parâmetros financeiros e ineficiências operacionais, quanto os qualitativos, que envolve satisfação de clientes, funcionários, tempo de produção, rapidez no atendimento, entre outros.

Empresas de tecnologia, internet e varejistas online como a Amazon estão mostrando que podem muito bem crescer, aumentar o valor sem sequer ter algum lucro contábil. Muitas vezes o ganho de market share e aumento do faturamento é mais importante do que lucro.

O Valor de Mercado de uma Empresa

Se uma empresa é capaz de remunerar os seus proprietários somente até o limite de suas expectativas mínimas de retorno, o seu valor de mercado restringe-se ao montante necessário que despenderia para edificá-la, ou seja, o valor de reposição de seus ativos (fixos e de giro). O valor é criado para o acionista somente quando as receitas de vendas superarem todos os dispêndios incorridos, inclusive o custo de oportunidade de capital próprio.

Portanto aquela empresa que terá excesso de lucro, terá o valor de mercado de valor contábil + valor de mercado de agregação de riqueza, que é conhecido no mercado como MVA (market value added) ou goodwill.

A empresa que destrói valor (mesmo aquelas que lucram) terá um valor de mercado abaixo de seu valor contábil, pois não estará atendendo a exigência mínima de rendimento de capital.

O valor econômico econômico agregado pelo mercado, representado pela medida MVA, é apurado pela diferença entre o valor de mercado da empresa (a partir de retornos esperados futuros) e o total do capital investido, ou seja:

 

MVA = Valor de Mercado – Capital Investido

O valor de mercado é obtido pelas expectativas futuras de geração de resultados líquidos de caixa trazidos para a valor presente, após descontar a taxa que reflete risco do investimento.

Quando este valor supera o que se espera do capital que foi investido, significa que a empresa agregou valor, ou criou riqueza. E quando é menor, significa que destruiu a riqueza dos acionistas

Direcionador de Valor

O modelo de Gestão Baseada no Valor propõe métricas a serem analisadas que possam afetar o valor de uma empresa. Estas métricas são chamadas de Direcionador de Valor.

Direcionador de Valor podem ser, por exemplo: margem de lucro, retorno sobre investimento, giro do ativo, alavancagem financeira, entre outros.

Capacidade Diferenciadoras

As capacidades diferenciadoras são entendidas como estratégias adotadas que permitem às empresas atuar com um nível de diferenciação em relação aos seus concorrentes de mercado, assumindo vantagem competitiva e maior agregação de valor aos seus proprietários.

Veja alguns exemplos de importantes capacidades diferenciadoras e sugestão de direcionadores de valor:

Capacidade Diferenciadora: Relações de Negócios

Objetivo Estratégico: Conhecer a capacidade de relacionamento da empresa com o mercado financeiro, fornecedores, clientes e empregados, como fundamento diferenciador do sucesso empresarial.

Direcionadores de Valor: Fidelidade dos clientes; Satisfação dos empregados; Atendimento dos fornecedores; Alternativas de financiamento

Capacidade Diferenciadora: Conhecimento do Negócio

Objetivo Estratégico: Ter a visão ampla da empresa, a sinergia do negócio. Visa o efetivo conhecimento de suas oportunidades e mais eficientes estratégias de agregar valor.

Direcionadores de Valor: Necessidade dos clientes; Dimensão e potencial do mercado; Ganhos de Escala; Ganhos de eficiência operacional

Conclusão

Por ser um assunto um pouco complexo, fiz um breve resumo para mostrar que existe outros parâmetros a serem analisados quando iremos investir uma empresa. Talvez seja por isso que as vezes você se pergunta o motivo de um empresa valer muito mais do que seu patrimônio líquido, e outra muito menos. Grande parte das vezes esta explicação se encontra o Valor Econômico Agregado criado ou destruído.

Warren Buffett sabe muito bem disso, e por isso pagou “valores razoáveis” por empresas como See’s Candies, Coca-Cola, entre outras. Tais empresas nunca seriam alvo do investidor Benjamin Graham por estarem caras demais.

Mas lembre-se, a criação de valor nem sempre se traduz em lucro. E lucro nem sempre se traduz em criação de valor. O que deve ser analisado são parâmetros intangíveis, além de retorno em relação ao custo de oportunidade.

Mas você deve estar se perguntando:

Estou longe da empresa, como vou saber se ela utiliza esse modelo de gestão e possui a capacidade diferenciadora que realmente gerou e continuará gerando valor para empresa?

Realmente não tem como saber se a empresa adota realmente esse estilo de gestão. Mas existem empresas que tem vantagens competitivas, e estas geralmente possui bastante valor agregado.

Veja nesse post algumas características que indicam que uma empresa cria bastante riqueza para os seus acionistas:

Ações Perfeitas para Investir, por Peter Lynch 

Fonte: ASSAF NETO, Alexandre. Valuation – Métricas de valor & Avaliação de Empresas.

SHARE
Previous articleCrise: você está aproveitando a "promoção" de ações?
Next articleVale a pena largar o que tenho para buscar algo melhor? – uma reflexão de Hunter S. Thompson
Olá, meu nome é Lucas, tenho 35 anos. Sou formado em Administração pela Universidade Fumec de BH, trabalho com Construção Civil e invisto na Bolsa de Valores desde 2009. Sou leitor assíduo de livros sobre Mercado de Ações, Empreendedorismo, e de histórias de superação. Sou adepto ao Investimento em Valor, filosofia de Ben Graham, e uso esse blog como estímulo para sempre buscar conhecimento e motivar outras pessoas para que elas não desistam do que realmente querem. A minha filosofia é de que conhecimento deve ser compartilhado de graça, porque no fim das contas todos saem ganhando. Continue acompanhando os novos artigos, e não esqueça de comentar! Se quiser me achar no Instagram pra bater um papo, é @buyandhold -- Obrigado! -- PS: Siga o blog Buy and Hold no Instagram, Twitter, e Face, clicando nesses ícones aí embaixo. Você não vai se arrepender! :P

113 COMMENTS

LEAVE A REPLY